Corri pra pista, porque começou a tocar 'aquela' que eu amo. De olhos fechados, esperando o refrão, senti um abraço. Normalmente, eu ficaria brava ao quadrado: como assim alguém invade um momento tão meu, ainda mais um completo estranho. Só que aqueles braços não me pareceram estranhos. Tratei apenas de aprisionar aquelas mãos nas minhas (por via das dúvidas!) e ali fiquei, confortável. Era uma pessoa alta (combinando que qualquer metro e sessenta perto de mim é enorme!) e tinha um perfume bom, temperatura agradável e encaixe perfeito.
Bateu a curiosidade, virei para ver quem era o par da vez... Um moço bonito, cabelos bem pretos, que na luz ficaram azulados. Ele tinha o rosto forte 'de homem', nariz hispanico, e a barba, que embora bem feita, se pronunciava.
- Oi!
- Oi!!!
- Uau! Ela é uma criança! Ah...
- (Ofendida!) Não sou, não!!!
- Fala alguma coisa, então!
- Vc é um chato e estragou tudo: vai embora!
- Como ela é?
Os amigos foram muito generosos na descrição. Um terminou: - Ela é uma gracinha!
- Vem cá! - ele disse... E eu fui. Ele tocou nos meus olhos, desceu delicadamente para o nariz, passou a ponta dos dedos nos meus lábios, tocou meu queixo com os indicadores... Tocou meus cabelos, que estavam presos. - Ela é linda! Vc é linda!!!
Foi aí que percebi que em nenhum momento ele havia piscado e enquanto fazia o reconhecimento, virou a cabeça meio de lado, como faço quando quero ouvir alguma coisa com mais atenção... Ele é cego!
- Topa ser meus olhos? Esses caras já beberam 'todas'. Se vc não me salvar, to ferrado!
E assim brinquei de guia o resto da noite, conduzindo o Rogério por todos os cantos do lugar.
- Tonta! Não adianta vc me levar pro escuro (e ria!).
Mal sabia ele o risco que corria.
- Acho que seus amigos, mesmo bebados, são mais inofensivos, menos perigosos...
- Não troco! Vamos subir e descer escadas?
- Quer descer rolando?
- Se rolar, meu... 'bora!
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