Não menosprezo o acadêmico, pelo contrário, gostaria de reverenciar alguns mestres e doutores por terem chegado aonde chegaram e o faria se eles fossem mais humildes.
Agora tem aquel@s que engolem livros e são capazes de dar conta de um fichamento, com parágrafo e página, se bobear, dão até a nota de rodapé, numa conversa (vazia!). Isso é aprendizado?
Lembrei-me daquele recorte de 'Gota d´àgua'. Descreve bem uma pessoa do tipo vazia.
ACHEI PELO GOOGLE AQUI NO BLOG, mesmo (RISOS). Vai, aperta o play, e trave este diálogo comigo. Ps: o tapa na cara é cênico, vá de boa!
...
(Jasão entra)
JASÃO — Joana... (Tempo)
JOANA — Fala baixo que os meninos tão dormindo...
JASÃO — E você, como é que vai?...
JOANA — Ah, eu vou bem, vou muito bem, Jasão!...
JASÃO — Você remoçou um bocado... Emagreceu... Ficou mais bonita... Parece uma menina...
JOANA — Você veio só debochar, Jasão, ou tem coisa séria pra dizer...
JASÃO — Joana, me escuta você
assim bonita, ainda moça, enxuta, pode encontrar uma pessoa... Quer
dizer, você pode tranqüilamente refazer a vida...
JOANA — Sei... E o que mais?...
JASÃO — Como, o que mais? Responde ao que eu tô falando...
JOANA — Me fode co'a vida e inda vem tripudiar? Vai dar conselho à puta que o pariu!
JASÃO — Escuta mulher, sabe que
eu gosto de ti? Gosto muito, você sempre é meu bem-querer,
sempre. E nunca mais eu vou poder esquecer você, esquecer o que você fez
por mim...
JOANA — 'Cê gosta da filha do Creonte, Jasão?
JASÃO — Não quero falar nisso agora...
JOANA — Responde duma vez, homem, toma coragem. Você gosta, mesmo, da moça?...
JASÃO — (Gritando) Mulher, pára.
Deixa eu falar... Cedo ou tarde a gente ia ter que separar. Quando eu
te conheci, tava pra completar vinte anos, não foi? Você era bem
conservada, a carroceria, bom molejo e a bateria carregada de desejo.
Então não queria saber de idade, e nem quero saber, porque pra mim o
amor não vê documento, nem certidão. Só que dez anos se passaram desde
então, e a diferença, que mal nem se via, a bosta do tempo só fez
aumentar.
JOANA — Jasão, pega a tua mocidade e enfia...
JASÃO — Joana, você tem que se acalmar, começar uma vida...
JOANA — Que vida eu tenho pra começar?...
JASÃO — (Gritando:) Deixa eu falar, pô... É que, se quisesse, você inda tinha muito pra dar...
JOANA — Se tivesse o que dar, Jasão, você não ia perder a ocasião de me sugar até o bagaço
JASÃO — Ai, meu saco, cacete, pô... Presta atenção ao que diz! Não me venha com provocação.
JOANA — Pois
bem, você vai escutar as contas que eu vou lhe fazer: te conheci
moleque, frouxo, perna bamba. As marcas do homem, uma a uma, Jasão, tu
tirou todas de mim. O primeiro prato, o primeiro aplauso, a
primeira inspiração. E assim que bateu o primeiro pé-de-vento, assim que
despontou um segundo horizonte, lá se foi meu homem-orgulho, minha obra
completa, lá se foi pro acervo de Creonte...
JASÃO — Mulher, pára...
JOANA — Digo porque é verdade...
JASÃO — Eu lhe quebro essa cara!
JOANA — O quê? Quebra não!...
JASÃO — Eu lhe quebro a cara inteira, porra...
JOANA — Pra mim, Cacetão, que ao menos não nega ser gigolô, tem muito mais valor...
JASÃO — Não diz isso de mim, mulher...
JOANA — Não digo? Digo sim: gigolô!... (Jasão dá um tapa em Joana, que cai.)
...
JASÃO - Dei-lhe dez anos. Na
fase em que tudo que é mulher já está servindo de escora pra guerreiro
cansado e barrigudo, você tinha um homem novo ao seu lado, renovando
pr'ocê a sensação de que uma vida tinha começado. Quanto vale?...
JOANA — Vale nada, Jasão. Amor
com prazo fixo vale nada. Eu achei que você estava ao meu lado. Mas, foi
sentir o sabor de uma ambição, que assim, da noite pro dia, eu deixei
de te satisfazer...
JASÃO — Não foi por isso que eu me separei.
JOANA — Então, não foi...
JASÃO — Foi, você tem razão.
JOANA —Você é um submisso.
Creonte manda: Jasão, vai dar cabo de tua mulher e teus filhos. Bota
eles na rua. Jasão bota o rabo entre as pernas e vem...
JASÃO — Sua idiota, você não fala assim...
JOANA — Quer me bater? Vem!...
JASÃO — Não me atormenta a vida, mulher
JOANA — Então tenha a coragem de dizer: por que você me deixou?...
JASÃO — Você
é viagem sem volta, Joana. Agora eu vou contar pra você, sem rancor,
sem sacanagem, por que é que eu tinha que te abandonar. Você tem uma
ânsia, um apetite que me esgota. Ninguém pode viver tendo que se
empenhar até o limite de suas forças, sempre, pra fazer qualquer coisa. É
no amor, é no trabalho, é na conversa, você me exigia inteiro, intenso,
pra tudo, caralho... Foi por isso mesmo que eu te amei tanto,
porque, Joana, você é um inferno Mas agora eu quero refresco, calma, o
que contigo nunca consegui, nunca, nem um minuto. Já com Alma é
diferente, relaxei, perdi a ansiedade, ela fica ao lado, quieta e a vida
passa sem moer a gente.
(Gota d'água - Chico Buarque e Paulo Pontes)
Clap, clap, clap...
Agora vamos encher nossos vazios sacos de farinha com literatura questionável. Faz um bem danado!
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