"... pois os homens e as mulheres não são somente eles mesmos. São a região onde nasceram, o apartamento da cidade onde aprenderam a andar, as brincadeiras que brincaram na infância, as conversas fiadas que ouviram por acaso, os alimentos que comeram, as escolas que freqüentaram, os esportes que praticaram, os poemas que leram e o Deus em que crêem."
Às vezes, podemos achar que não, mas cada um de nós é um mistério único. O mistério que é você e o mistério que sou eu nunca existiram antes. Jamais existirá alguém exatamente como você ou eu. A combinação de qualidades e talento que é você é uma embalagem que nunca antes foi feita. É tão singular quanto suas impressões digitais. E só você pode partilhar seu mistério e talento comigo.
Se você preferir recusar-me seu dom, serei privado de partilhar do mistério e experiência singular que é você. Da mesma forma, posso negar-lhe a experiência indireta de como é ser eu. Exatamente como ficaremos privados para sempre por causa dessa mútua recusa, o oposto também é verdadeiro. Podemos ficar para sempre enriquecidos por uma franqueza e um partilhar mútuos. A participação indireta da experiência humana singular de outra pessoa é sempre enriquecedora. Essa é uma grande dádiva da comunicação.
Quando me disser quem é você, quando partilhar sua singularidade comigo, levar-me a um mundo diferente, a um tempo e lugar diferentes, a uma família diferente, você partilhará sua antiga vizinhança comigo e me contará as histórias que ouviu quando criança. Levar-me-á à vales e a cumes de montanhas que nunca vi antes. Você me conduzirá a arcas secretas de experiências que não eram parte de minha vida. Apresentar-me-á à emoções, esperanças e sonhos que nunca foram meus. E isso só poderá ampliar as dimensões de minha mente e meu coração. Ficarei para sempre enriquecido pelo nosso partilhar. Meu mundo de experiências ficará para sempre ampliado, por causa de sua bondade para comigo.
A auto-revelação em si e por si nunca é um peso. É importante perceber que em mim e por mim mesmo sou um dom.
Ao partilhar, não lhe pedirei nada, apenas que escute com empatia. Ao lhe fazer o dom de mim, estou na verdade, dando-me a você. É minha dádiva mais preciosa, talvez minha única dádiva verdadeira.
As pessoas são dádivas de Deus para mim. Já vêm embrulhadas, algumas lindamente e outras de modo menos atraente. Algumas foram danificadas no Correio; outras chegam por "entrega pessoal". Algumas estão desamarradas, outras hermeticamente fechadas.
Mas o invólucro não é a dádiva e essa é uma importante descoberta. É tão fácil cometer um erro a esse respeito, julgar o conteúdo pela aparência. Às vezes, a dádiva é aberta com facilidade; às vezes, é preciso a ajuda dos outros. Talvez porque tenham medo. Talvez já tenham sido magoados antes e não queiram ser magoados de novo. Pode ser que já tenham sido abertos e depois jogados fora. Pode ser que agora se sintam mais como "coisas" do que como "pessoas humanas".
Sou uma pessoa. Também sou uma dádiva, como todas as outras. Deus encheu-me de uma bondade que é só minha. E, contudo, às vezes, tenho medo de olhar dentro do meu invólucro. Talvez eu tenha medo de me desapontar.
Talvez eu não confie em meu próprio conteúdo. Ou pode ser que eu nunca tenha realmente aceitado a dádiva que sou.
Todo encontro e partilhar de pessoas é uma troca de dádivas. Minha dádiva sou eu; a sua é você. Somos dádivas um para o outro.
Fonte: POWELL, John e BRANDY, Loretta - Arrancar Máscaras, Abandonar Papéis
(http://ritaterapeuta.blogspot.com)
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