Gritomudo

Gritomudo
#gritomudo

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Calei-me!


Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue.

Como beber dessa bebida amarga?
Tragar a dor, engolir a labuta?
Mesmo calada a boca, resta o peito
Silêncio na cidade não se escuta
De que me vale ser filho da santa?
Melhor seria ser filho da outra
Outra realidade menos morta
Tanta mentira, tanta força bruta

Como é difícil acordar calado
Se na calada da noite eu me dano
Quero lançar um grito desumano
Que é uma maneira de ser escutado
Esse silêncio todo me atordoa
Atordoado, eu permaneço atento
Na arquibancada pra, a qualquer momento,
Ver emergir o monstro da lagoa

De muito gorda, a porca já não anda
De muito usada, a faca já não corta
Como é difícil, pai, abrir a porta!
Essa palavra presa na garganta

Esse pileque homérico no mundo...
De que adianta ter boa vontade?
Mesmo calado o peito, resta a cuca
Dos bêbados do centro da cidade

Talvez o mundo não seja pequeno
Nem seja, a vida, um fato consumado
Quero inventar o meu próprio pecado
Quero morrer do meu próprio veneno
Quero perder de vez tua cabeça
Minha cabeça perder teu juízo
Quero cheirar fumaça de óleo diesel
Me embriagar até que alguém me esqueça!
(Milton/Chico)

Nenhum comentário:

Postar um comentário