Gritomudo

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quinta-feira, 23 de julho de 2009

Sobre o DUENDE

(...) Isto é de sangue, isto é de cultura velhíssima (...).
Tudo quanto tem sons negros tem Duende. Estes sons negros são o mistério, as raízes que se cravam no limo que todos conhecemos, que todos ignoramos, mas de onde nos chega o que é substancial na arte. (…) Poder misterioso que todos sentem e que nenhum filósofo explica.
Para buscar o Duende não há mapa.
Só se sabe que queima o sangue, que esgota, que rechaça toda doce geometria aprendida, que rompe os estilos, que faz com que o grande mestre Goya abandone os tons cinzas, pratas e rosas da melhor pintura inglesa e passe a pintar com os joelhos e os punhos negros de betume.
Podemos matar toda a estrutura da canção para dar passagem a um duende furioso e abrasador, amigo de ventos carregados de areia.
A chegada do duende pressupõe sempre uma mudança radical em todas as formas sobre planos velhos, de sensações de frescor totalmente inéditas, com uma qualidade de rosa recém-criada, de milagre, que chega a produzir um entusiasmo quase religioso.
Todas as artes são capazes de Duende, mas onde encontra mais campo, como é natural, é na música, na dança e na poesia falada, já que estas necessitam de um corpo vivo que interprete, porque são formas que nascem e morrem de modo perpétuo e alçam seus contornos sobre um presente exato.
O Duende não chega se não vê a possibilidade de morte.
O Duende não se repete como não se repetem as formas do mar na ressaca.
(FRAGMENTOS DOS FRAGMENTOS de Federico Garcia Lorca
Tradução: Oswaldo Gabrielli)

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