Gritomudo

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sexta-feira, 18 de julho de 2014

Um cigano legitimo, de sangue...

**é que não tinha um cigano à sua disposição, e que realmente te faça aprender a bailar Flamenco, pois o flamenco tem que se ter confiança para aprender, um parceiro para dançar... E pegada na dança.
 
Ela suspira, lamentando profundamente ser dona de dois pés esquerdos, lembrando o quão estabanada, enroscava-se na falda!
 
'Até que pode ser divertido', ela pensa e ri, enquanto se visualiza presa pelas argolas dos brincos na camisa dele, o saltinho marcando a perna das calças, entre outras tragédias, que só o Flamenco proporciona.

Lembro-me daquela Sevilhana... Era a primeira, acho! Uma das primeiras tentativas de castanhola. Ao marcar o tempo, ela me beliscou a palma da mão. 
 
"- Maldita! Me falaram que vc era profissional!"  
 
Larguei o instrumento com os 'ojos' lacrimejando. Sim, a dor era tão aguda quanto o som que produzia o toque das madeiras.

- Que se pasa, niña???

- Ela me beliscou!

- Como dice en Brasil (disse ele, num péssimo português), dou um beijo e passa', enquanto beijava a palma da minha mão DIREITA.

- Prô... É a do tempo!

Ele nem quis saber qual era a mão que doía, só se importava em beijar. Eu, num misto de constrangimento e prazer, ria e olhava para as outras meninas, que riam, tb. De mim e para mim!
As senhorinhas soltavam gritinhos de "Dale, niña!", enquanto as bailaoras profissionais se roíam de inveja.
Eu, no auge da inocência adolescente, sabia bem onde ele queria chegar. Puxei minha mão, joguei-me no chão (não sem antes ajeitar, estrategicamente, toda aquela saia com 15 metros de roda!), arranquei o sapato e disse:

- Yo soy hija de Bernarda Alba y si mi madre no matarlo, MATO EU!!!

Ele riu, estendeu as mãos pra que eu levantasse... - O papel é seu!

Naquele ano bailei como nunca havia, e dediquei à ele o prêmio de melhor atriz da cidade... Com un beso y una rosa.


 
 
 

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