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quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Museu do Amor Malogrado - Croácia



 


No número 2 da Ćirilometodska, uma viela estreita no centro de Zagreb, há um sobrado branco com um banner roxo onde se lê: Museum of Broken Relationships. É um espaço dedicado às relações amorosas que não deram certo. Lá se exibem os mais variados objetos que restaram desses trágicos romances – ursos de pelúcia, chaves de casa, vestidos de noiva, cartas rasgadas e calcinhas comestíveis.

A ideia é de dois croatas, Drazen Grubisic e Olinka Vistica, que namoraram de 1999 a 2003 e, quando romperam, não sabiam o que fazer com a vasta memorabilia da relação. Pediram contribuições aos amigos e, em 2006, fundaram o Muzej prekinutih veza, um porto seguro para a herança intangível dos amores frustrados. “Parecia uma solução mais sutil e poética do que ceder às explosões de raiva que acabam destruindo boa parte de nossa história íntima”, explica Olinka no catálogo da exposição.

É ela que recebe os visitantes na entrada do museu, muito tranquila e sorridente, a poucos passos da primeira peça em exibição: um coelhinho movido à corda, lembrança de seu relacionamento com Drazen. Na inscrição: “1999-2003. Zagreb, Croácia. Este coelhinho deveria viajar pelo mundo todo, mas nunca foi além do Irã.”

Todos os itens possuem uma placa informando a procedência, duração do romance e uma breve justificativa de seu valor sentimental. A maioria vem de croatas e eslovenos, mas há também objetos bósnios e sérvios, alguns alemães, um suíço, três macedônios, um norueguês, dois filipinos e um sul-africano, entre outros. Em breve, uma peça brasileira entrará para o acervo permanente – um garboso buquê de casamento feito de papel, minha modesta contribuição à galeria croata.

Não será páreo para o “anão raivoso do dia do divórcio”, um dos itens mais interessantes da coleção. Após 20 anos de matrimônio, o marido de uma eslovena resolveu comprar um carro novo e pedir a separação, ao que ela reagiu arremessando um anão de jardim em direção ao possante. O anão bateu no para-brisa, quicou e aterrissou no asfalto. “Descreveu uma parábola comprida que foi como um arco no tempo e marcou o fim do nosso casamento”, ela escreve. A peça não tem nariz.

Já um alemão enviou um “recipiente para lágrimas” com a prova líquida do quanto sofreu. Uma americana de Bloomington, Indiana, mandou “uma lata de incenso do amor” com a sucinta inscrição: “Não funciona”.

MACHADO DA EX

De início, o Museu do Amor Malogrado era itinerante. Percorreu doze países entre Singapura, Irlanda, Estados Unidos, África do Sul, Argentina, Turquia e Inglaterra, sempre agregando artefatos locais. Em novembro de 2010, ganhou uma galeria permanente em Zagreb.

O espaço é branco e sóbrio, feito um museu minimalista. As peças são iluminadas por focos de luz e se dispõem esparsamente em salas austeras, a despeito de serem prosaicas lagostas de pelúcia, botas, bicicletas, perucas, retrovisores, ferros de passar, um “frisbee estúpido” e um relógio de parede com as palavras: “Ele terminou comigo via Skype”.

A trilha sonora é convenientemente composta de canções românticas antigas escolhidas por Olinka, como “Hallelujah, I Love Her So” (Ray Charles), “Cheek to Cheek” (versão de Frank Sinatra) e “Can’t Buy Me Love” (de Ella Fitzgerald). É como uma celebração ao amor – só que ao contrário.

Algumas seções são mais pesadas, outras melancólicas. Muitos visitantes assoam o nariz ao passar por um certo cavalinho de vidro (1982-97) com a legenda: “Seu amor desapareceu como o vento. Guardei o cavalo de vidro numa caixa com a aliança e a tranquei. Disse a mim mesma: ‘Não chore! Amanhã é um novo dia’”.

A tristeza, a saudade e a banalidade convivem neste museu, que, para Olinka, proporciona a chance de lidar com um rompimento de forma criativa e catártica, aprofundando a compreensão dos fatos e fortalecendo nossa crença em algo além do sofrimento aleatório. “A doação de um item proporciona a fusão entre realidade imutável – o objeto em si, que traz lembranças – e o caráter volátil de uma história pessoal, com o poder alternativo de sublimar a memória.” Um bom exemplo é a camiseta que uma garota sérvia ganhou do namorado. Ela diz ter superado a tristeza no dia em que usou a roupa enquanto tingia o cabelo.

Outro exemplo é um gibi em turco que, com o tempo, tornou-se insignificante “como todas essas histórias absurdas do Zagor que ele costumava ler”.

Olinka admite que “nunca ficará claro se fizemos isso tudo para erradicar o nosso amor ou para torná-lo eterno. Gosto de pensar que o museu serve a ambos os propósitos”.

Os objetos mais apreciados são os raivosos e cínicos, como um “machado da ex” (“an Ex-Axe”) usado para quebrar todos os móveis de uma donzela, ou uma prótese de perna que um soldado inválido ganhou da namorada. “A prótese durou mais do que o nosso amor. Era feita de um material mais resistente!”, exclama o desiludido.

O destaque mais recente vai para uma foto (1993-95) de “um lago na Flórida onde cabulei aula com o meu namorado. A seta aponta para o local onde vi pela primeira vez um pênis ao pôr-do-sol”.

No livro de comentários à saída da exposição, as declarações são igualmente paradoxais. Um americano conta que quebrou todos os pratos de porcelana chinesa da amada e se sentiu muito bem. Uma tal de Jenny se orgulha de haver possuído apenas um grande amor – por abacaxis. E há o registro de um diálogo:

Barbara: Quer se casar comigo?
Mathias: Não.

No fim daquela tarde, em Zagreb, um alegre casal de noivos contraiu matrimônio na igreja St. Catherine, do outro lado da rua, e foi tirar fotos no café do museu. “Gosto de pensar que existe aqui um equilíbrio”, afirmou Olinka.

Afinal, tudo se resume a um vestido de casamento (1995-2003) enviado por uma moça croata ao museu. No pacote, nenhum tipo de explicação, além da pergunta: “Vocês me devolvem se um dia eu resolver me casar outra vez?”.

Links

- http://www1.folha.uol.com.br/serafina/1108594-escritora-visita-espaco-dedicado-a-romances-frustrados-na-croacia.shtml
- http://brokenships.com/

Fotos



Um buquê de papel (2006-2011)
São Paulo, Brasil
Um verdadeiro machucado com corte de papel.

Revista Serafina – Folha de S.Paulo
24 de junho de 2012
Versão integral
Por Vanessa Barbara 


...

Vestidos...

Eu, que sempre fui apaixonada por vestidos, passei a comprá-los ao me preparar para cada novo encontro. Não há 'floral' que se compare à segurança de um vestido novo.
Um dia reparei que classificava os vestidos pelos nomes dos respectivos: o vestido do "boy magia", o do "bofe escândalo", o do ***, enfim...
Eu nunca tive problemas em tê-los no guarda roupas desta forma, até o dia em que meu grande amor terminou o namoro... Foram dois anos 'de cão' (só quem sabe, sabe!). Num momento impetuoso, pra me me livrar daquela angustia, abri o guarda roupas e fui baixando, não só os vestidos que dele ganhei de presente, mas, TODOS os que comprei enquanto namorávamos.
Esta foto foi feita por um fotógrafo amigo a meu pedido, alguns meses depois do término, num daqueles dias de MUITA tristeza.
O vestido?
Jaz em algum lugar do passado.


Me vesti de flores
E sentei no jardim
esperando tua volta
Minha alma, que nem sempre era primavera 
(mas sabia o valor de um amor-perfeito)
Foi anêmona no outono 
E áster no inverno.





*Mas, sabe o que é bom? O bom é QUE PASSA!
E dp que passa, ficamos novamente prontíssimas para outras histórias.

 

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