O ano letivo nem começou e já são previsíveis as notícias em relação à educação no Brasil. Anote aí: já nos primeiros dias de aula a maioria dos alunos de escolas públicas ficará sem estudar por falta de professor. Depois, quando saírem os dados sobre as últimas avaliações educacionais, a desigualdade entre as regiões do País e pobres e ricos será chocante. O pior resultado por etapa será o do ensino médio e, por área, em matemática.
Nada disso é adivinhação. Sei que será assim da mesma forma que um aluno reprovado por anos seguidos sabe o que lhe espera quando começa de novo a mesma série. Desde a década passada os principais problemas e demandas são traduzidos nos mesmos títulos ao longo do ano: “Professores em greve em São Paulo (ou Rio de Janeiro, ou Brasil inteiro) reivindicam piso salarial (ou jornada) garantida por lei”, “Ensino Médio tem pior resultado”, “Só 10% aprendem o básico em Matemática”, “Senado (ou Câmara) muda projeto do Plano Nacional de Educação (PNE)”, “Faltam vagas em creches em todo o País” e “Violência cresce nas escolas”.
Em 2013, até no resultado do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) o Brasil se saiu igual, tão mal quanto já estava em 2009. No meio do ano, quando as manifestações começaram a incluir a qualidade da educação na pauta, o “repetente” ganhou reforço e motivação e chegou a se sair muito bem no teste do momento – a aprovação dos royalties do petróleo para o setor. Mas no final, pela quarta vez, fechou o ano sem definir suas metas para a década, ou seja, decidir de vez e aprovar o PNE. Se nem plano temos, fica difícil avaliar, focar e atingir os objetivos.
Tal qual uma criança reprovada, começar de novo com os mesmo obstáculos que não conseguiu transpor no passado, acarreta em uma série de problemas. O professor acredita cada vez menos que vai ser valorizado. O aluno já nem espera ter todas as aulas. Os pais antecipadamente contam com problemas de estrutura nas escolas. Mães se resignam diante da falta de vagas para seus bebês. Até mesmo nós jornalistas começamos a diminuir o espaço reservado a um problema que, por mais importante e escandaloso que seja, como é o caso, se torna assunto repetido. Fica cada vez mais difícil para um repórter do setor convencer responsáveis pelas capas de que as manchetes listadas no começo deste texto ou “PNE será votado hoje” é prioridade estratégica e urgente.
É preciso parar de repetir. Educadores que se dedicam a interromper ciclos de repetência nas escolas chegaram a dois caminhos. O mais comum se traduz em uma velha polêmica no sistema paulista de ensino, a progressão continuada: para não causar problemas com baixa autoestima e abandono, estudantes avançam nas séries mesmo que sem o resultado esperado. Já falei que sou contra, por excessos que camuflam as falhas do sistema. Seria o equivalente a baixar as expectativas do Plano Nacional de Educação para que ele se encaixe no orçamento do governo e passemos ao próximo assunto.
A segunda via é mais difícil, exige olhar individual do professor para cada aluno, tempo e recursos. Para os adeptos desta linha sempre é possível ensinar, mas há necessidade de se encontrar uma forma mais eficiente de motivar e promover aprendizagem diante do fracasso no método tradicional. Me parece uma pista de como lidar com o repetente em questão. A estratégia tradicional de reclamar do governo à distância não funciona. Fica para todos nós o desafio de fazer diferente.
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Pausa nas férias prum desabafo...
Li e reli este texto, do iG, de 20/01/2014, duas vezes e só tenho a dizer que: se com 35, conseguimos muito (às duras penas!), diminui a quantidade de alunos pela metade e joga na minha mão pra ver o que eu faço!
Bonita, a Educação no Brasil é criminosa!!! Se liga, bebê! Utiliza seu espaço e seja mais incisiva se quer ajudar! Textos como estes qualquer manifestante de Facebook escreve!!!
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