Gritomudo

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terça-feira, 7 de setembro de 2010

Metamorfose



... Lembro-me de uma manhã em que eu havia descoberto um casulo na casca de uma árvore, no momento em que a boboleta rompia o casulo e se preparava para sair. Esperei bastante tempo, mas estava demorando muito e eu estava com pressa.
Irritado, curvei-me e comecei a esquentá-lo com meu hálito. Eu o esquentava, impaciente e o milagre começou a acontecer diante de mim, a um rítmo mais rápido que o natural. O casulo se abriu, a borboleta saiu se arrastando e nunca hei de esquecer o horror que senti então: suas asas ainda não estavam abertas e com todo o seu corpinho que tremia, ela se esforçava para desdobrá-las.
Curvando por cima dela, eu a ajudava com meu hálito, em vão. Era necesséria uma paciente maturação, o desenrolar das asas devia ser feito lentamente ao Sol; agora era tarde demais. Meu sopro obrigara a borboleta a se mostrar toda amarrotada antes do tempo. Ela se agitou desesperada e alguns segundos depois, morreu na palma da minha mão. 
Aquele pequeno cadáver é, eu acho, o peso maior que tenho na consciência. Pois, hoje, entendo bem isto: é um pecado mortal forçar as grandes leis. Temos que não nos apressar, não ficarmos impacientes, seguir com confiança e ritmo eterno.

(Nikos Kazantzaki)

Refletindo...

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